sexta-feira, 16 de abril de 2010

1930




TOQUE DE LETRA
Primeiro artilheiro do Brasil cresceu em meio a uma acirrada polêmica entre intelectuais sobre o futebol.




Foi na sisuda Academia Brasileira de Letras que o primeiro destaque do país nas Copas do Mundo, em 1930, teve uma ajuda decisiva para impulsionar sua carreira de futebol.

No início do século passado, dois ilustres intelectuais ocuparam trincheiras opostas no debate sobre o esporte que começava a tomar conta do país.
De um lado, estava Lima Barreto, um dos mais conceituados escritores brasileiros, que não perdia a chance de atacar a modalidade. Para ele, o futebol seria apenas mais uma oportunidade para a elite branca exercer seu poder sobre os negros, então proibidos de jogar na maior parte dos clubes no início do século 20.


Na oposição a Barreto estava um autor de sucesso com o público de sua época, mas que não era muito bem visto pelos críticos. Por defender abertamente o futebol em jornais e na ABL, Coelho Neto se transformou em “inimigo número um” do autor de “O Homem que Falava Javanês”. Lima Barreto não entendia como um respeitado membro da academia podia perder tempo com tão “desprezível” prática esportiva.
Além de artigos a favor da então “moderna” modalidade, Coelho Neto, fanático torcedor do Fluminense – um dos muitos clubes que menosprezavam jogadores negros - ,mostrava seu entusiasmo com o futebol ao icentivar seus filhos a praticá-lo.
O primeiro a se destacar foi Mano, que chegou à seleção, mas teve sua carreira interrompida de forma trágica. Ele morreu no início da década de 20 após sofrer uma contusão em uma partida.
O triste acontecimento não reduziu o entusiasmo de Coelho Neto pelo futebol, ainda mais porque outro filho seu começava a brilhar. E seria justamente esse rapaz que teria a primeira chance de comemorar um gol brasileiro em um Mundial.
Jogando em uma equipe enfraquecida pela disputa entre cariocas e paulistas – o que acabou desfalcando o time nacional na competição no Uruguai - , o filho do maranhense Coelho Neto – que chegou a escrever um poema de apoio ao time – foi um dos poucos destaques brasileiros.
Contra a Iugoslávia, na estréia, marcou o gol de honra na derrota do Brasil por 2 a 1.
Depois, em jogo no qual a seleção só cumpria tabela, marcou mais duas vezes na vitória de 4 a 0 sobre a Bolívia.




Assim, depois de se tornar o artilheiro brasileiro no Uruguai e conquistar centenas de medalhas pelo Fluminense em diversas modalidades (também praticava vôlei, atletismo e natação), o atacante Preguinho acabou por mudar o status da família.
Na condição de astro do futebol, ele deixaria de ser conhecido apenas como filho do famoso escritor. Depois do seu sucesso com a bola nos pés, seria Coelho Neto que passaria a ser conhecido como o pai de Preguinho.




COBOS, Paulo; SOARES, Fábio. O Brasil nas copas. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 mai. 2002. Especial D2.




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