Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo da FIFA foi transmitida em cores para o mundo todo. Dezenas de milhões assistiram encantados à excepcional participação do Brasil, que abrilhantou o espetáculo com uma linda exibição de futebol ofensivo e venceu merecidamente a competição pela terceira vez. A vitória por 4 a 1 sobre a Itália na final deu ao país o direito de ficar com a Taça Jules Rimet. Para Pelé, foi a despedida perfeita das competições internacionais.
O Rei tinha ameaçado não voltar após uma experiência frustrante na Inglaterra, onde fora literalmente chutado para fora do torneio. Mas ele retornou e encontrou seu lugar em uma seleção com muito talento, formando um ataque irresistível com Jairzinho, Gérson, Tostão e Rivellino. Nada melhor do que o quarto gol contra a Itália na final para captar a beleza do futebol brasileiro: Pelé viu o lateral avançar pela direita, solto, e deu um passe milimétrico para o capitão Carlos Alberto Torres concluir um lance que teve a participação de sete jogadores com um chute de primeira que superou o goleiro Enrico Albertosi e entrou junto ao poste.
Antes do torneio, o calor intenso e a altitude já causavam receios sobre a saúde dos jogadores, mas as preocupações aumentaram ainda mais com a decisão de as partidas serem jogadas ao meio-dia para atender a exigências televisivas na Europa. Outros sinais dos novos tempos foram as duas substituições por equipe, cartões vermelhos e amarelos para os árbitros e uma bola adidas, a famosa Telstar em padrão xadrez preto e branco.
A defesa de Banks
O maior destaque da primeira fase foi o confronto entre Inglaterra e Brasil: os campeões de quatro anos antes enfrentavam a seleção que viria a conquistar o título mundial. A partida teve aquela que é considerada a defesa mais famosa da história da Copa do Mundo da FIFA, no lance em que Gordon Banks pulou para defender uma cabeçada de Pelé que entrava no canto e espalmou a bola por cima da meta. O gol da vitória foi marcado por Jairzinho, que entrou para a história ao balançar as redes em todos os jogos da seleção. Para o Brasil, a partida foi a mais difícil de todo o torneio. O capitão inglês Bobby Moore teve uma grande atuação, mostrando que tinha deixado para trás os contratempos da preparação para o torneio. Moore havia sido preso na Colômbia após ser falsamente acusado de roubar uma pulseira.
Müller fez três gols contra a Bulgária e repetiu a conta diante do Peru. Nas quartas-de-final, um gol seu na prorrogação eliminou a Inglaterra. A Alemanha Ocidental perdia por 2 a 0 em León a 23 minutos do fim, mas empatou com gols de Franz Beckenbauer e Uwe Seeler. Antes de Müller confirmar a vitória alemã, o juiz anulou um gol do inglês Geoff Hurst. Ironicamente, Hurst havia sido o autor de um polêmico gol contra a Alemanha Ocidental na decisão da Copa do Mundo da FIFA 1966. Os ingleses lamentaram a ausência de Banks, que estava doente. Porém, para os comandados de Helmut Schön, a primeira vitória sobre a Inglaterra em uma partida de competição foi a vingança perfeita pela final de quatro anos antes.
Semifinal emocionante
A perseverança dos alemães produziu uma semifinal de muita emoção contra a Itália. O jogo teve o maior número de gols marcados na prorrogação em toda a história da Copa do Mundo da FIFA. O gol marcado por Karl-Heinz Schnellinger aos 45 minutos da segunda etapa empatou o jogo em 1 a 1 e forçou o tempo extra, que contou com cinco gols, dois deles de Gerd Müller. Mas o capitão alemão Franz Beckenbauer, que atuava com o ombro deslocado, não conseguiu impedir os três gols que deram a vitória à Itália, o último deles marcado por Gianni Rivera, escolhido o melhor jogador da Europa no ano anterior.
A Alemanha Ocidental teve de se contentar com a conquista do terceiro lugar, enquanto a Itália, que havia eliminado o anfitrião México, chegava à sua primeira final desde 1938. Mesmo assim, apesar da excelência defensiva personificada por Giacinto Facchetti e do faro de gol de Gigi Riva, os italianos eram uma enorme zebra.
O Brasil vinha encantando o público desde o início do torneio. Zagallo havia substituído João Saldanha no comando técnico apenas três meses antes da competição, mas o selecionado passara todo aquele período se preparando intensamente. Depois de derrotar Tchecoslováquia, Inglaterra e Romênia, o escrete chegou às semifinais superando o Peru, treinado pelo brasileiro Didi, companheiro de Zagallo e Pelé em 1958 e 1962. Os peruanos haviam chegado à Copa do Mundo da FIFA depois de eliminarem a Argentina e contavam com o grande atacante Teófilo Cubillas, mas não foram páreo para a seleção canarinho e perderam por 4 a 2.
A finta de Pelé
Demorou 20 anos, mas o Brasil conseguiu finalmente a vingança contra o Uruguai. A Celeste Olímpica abriu o placar na semifinal, mas Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino fizeram os gols que garantiram a vitória brasileira. No entanto, o grande momento de genialidade veio dos pés de Pelé. Ao correr para receber um passe de Jairzinho de frente para o goleiro Ladislao Mazurkiewicz, o Rei deixou propositalmente a bola passar por ele. O uruguaio vinha na corrida e acabou passando reto, mas Pelé deu a volta, pegou a bola do outro lado, girou rapidamente e chutou para o gol. Caprichosamente, a gorduchinha passou rente ao poste, pela linha de fundo.
Na decisão contra a Itália, foi justamente Pelé, que buscava o seu terceiro título mundial com o Brasil, que abriu o placar com uma cabeçada precisa. Roberto Boninsegna chegou a empatar, mas o resultado não poderia ser outro. Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto fizeram três gols no segundo tempo, confirmando o tricampeonato mundial. Até o Messaggero de Roma teve de admitir que a Itália "foi derrotada pelos melhores jogadores do mundo".
COPA DO MUNDO DA FIFA MÉXICO 1970. Fifa.com. Disponível em http://pt.fifa.com/worldcup/archive/edition=32/overview.html Acesso em: 18 mai. 2010.
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